O filme do produtor Aquarius e de Boi Neon mostra muita música, dança e misticismo, pois busca tolerância nos dias de hoje.
O diretor e roteirista Tiago Melo, conhecido por ter trabalhado nas produções Aquarius e Boi Neon, chegou a Nazaré da Mata, em Pernambuco, em 2014, com o objetivo de fazer um documentário sobre Maracatu. Mas o ritmo musical tradicional e o ritual do sincretismo religioso eventualmente ganhou vida em um longa-metragem fictício estrelado por iniciantes. Foi assim que Azougue Nazaré nasceu.
- Isso foi revelado pelo cineasta e pelo elenco após a exibição do filme no Festival do Rio de 2018 na tarde da última sexta-feira (09).
- Durante o tradicional debate que acompanha os longas selecionados do Premiére Brasil no cinema Odeon.
Mestre Barachinha, poeta, artesão e músico de Maracatu, que abençoou o Festival do Rio e o público presente no cinema Odeón com uma canção, foi um dos grandes motivadores para o início do projeto. O passado veio dele e do resto do elenco, no entanto, na forma de ficção e não-documentário. Curiosamente, Barachinha interpreta um ex-membro do Maracatu que se tornou pastor da igreja evangélica. O confronto constante entre essas duas forças é um dos principais temas do filme.
De um lado, o Pastor (Barachinha), que condena Maracatu como uma “obra do diabo” e quer converter as pessoas para deixar esse ambiente e “aceitar Jesus em seus corações”. Por outro lado, um grupo de músicos para tocar no Carnaval de Pernambuco e fazer duelos musicais em uma mesa de bar e via whatsapp ?, entre eles, Catita (Valmir do Coco), casada com Darlene (Joana Gatis), que sofre a ausência do marido e se dedica à igreja. Ao mesmo tempo, um terceiro arco ganha força com cenas surreais, trazendo caboclos vagando por canaviais e aparentemente sequestrando pessoas.
Para Mestre Barachinha, interpretar o pastor foi uma experiência difícil, mas revela que tentou encarar o papel com amor. E o ator novato avisa: “Um papel foi muito pequeno. Mais poderia vir.
Segundo ele, o filme foi capaz de mostrar fielmente a beleza e a tradição do Maracatu e como o movimento sobrevive mesmo sendo economicamente pobre. No entanto, há muita ficção, especialmente no lado religioso. Barachinha diz que há coisas que realmente acontecem – como o preconceito de algumas pessoas na igreja evangélica – mas que muitos vêm ajudar Maracatu, dando comissão na época do carnaval. “Algumas pessoas não gostam, outras apoiam”, diz ele.
Tiago Melo explica que a ideia de levar a igreja contra o Maracatu foi mostrar a realidade do Brasil como um todo e a influência das igrejas na sociedade. “Há uma teoria da dominação que diz que há apenas uma verdade e que todo o resto é um erro grave”, disse ele. Nesse sentido, “Maracatu é uma arte de resistência”. O cineasta queria mostrar que é possível viver com crenças diferentes. “Até resolvermos as diferenças, viveremos em pé de guerra. “disse ele.
Apesar de ser um dos atores novatos, Valmir do Coco explica que o elenco já estava acostumado com câmeras, afinal, Nazaré da Mata é uma das principais atrações turísticas do carnaval pernambucano e, todos os anos, a mídia vai cobrir o evento e entrevistar pessoas. da cidade.
Joana Gatis, por sua vez, a intérprete de Darlene, entrou no projeto como figurinista e acabou fazendo testes para uma das protagonistas. A atriz explica que as cenas foram construídas nos ensaios, com bastante liberdade para improvisação. “Ele parece tão íntimo”, na frente das câmeras, porque ele fez”, diz ele.
Filmado em três etapas, enquanto o cineasta concilia direção e roteiro com outros projetos em que trabalhou como produtor, o filme fecha o Primeiro Brasil do Festival do Rio. O filme também passou por mostras internacionais, como o Buenos Aires International Independent. Festival de Cinema, no qual Tiago Melo foi premiado como melhor diretor.
Enquanto Maracatu é uma cultura de resistência, o cinema brasileiro, mostrando as diferentes nuances, povos e ritmos do país, é fundamental para questionar o momento político e social em que vivemos Azougue Nazaré, em toda sua qualidade, traz o sopro de tolerância. se necessário hoje.