Adélia Sampaio não foi apenas a primeira diretora negra a fazer um longa-metragem no Brasil, como também fez história com seu primeiro projeto, Maldito Amor, ao contar a história de um casal de mulheres que se apaixonam e tentam lidar com preconceitos familiares e repressão, Adélia também enfrentou esse mesmo preconceito, assim como o machismo, fora das câmeras. A boa notícia é que, apesar disso, ela conseguiu fazer comercialmente seu filme, mesmo com a falsa definição de que a peça era um pornchanchada.
No entanto, os estereótipos e normas cinematográficas da época nunca se encaixam com este filme, que foi re-exibido em sessões especiais de festivais há alguns anos e que está muito alinhado com os diálogos políticos e sociais contemporâneos. A história de Amor Amaldiçoado, além de ser baseada em eventos da década de 1960, usou alguns pequenos detalhes para compor o drama da trama. Não é só o suicídio de Sueli (Wilma Dias) que tem o maior peso; Todo o processo judicial enfrentado por Fernanda (Monique Lafond) diante de advogados e juízes maliciosos é baseado nos arquivos aos que Adélia teve acesso durante a invasão.
- O tom de preconceito e machismo nas palavras de personagens de desenhos animados.
- Como a família de Sueli e o advogado que tenta incriminar Fernanda com sensacionalismo é uma das características mais marcantes do filme.
- Atestando a harmonia narrativa do diretor.
- Há vários flashbacks entre Fernanda e Sueli que apresentam ao espectador com o início.
- O meio e o fim.
- A felicidade é prejudicada pelo medo e pela solidão.
- O sentimento agridoce dessa relação é colocado com ainda mais impacto do que o processo judicial em si.
- E a última cena.
- Linda.
- Expressa bem essa diretriz.
Se, por um lado, passaram-se décadas desde o início do longa-metragem, o que resta é, sem dúvida, o diálogo que a ficção envolve na intolerância, ainda enraizada na sociedade brasileira. Limitações técnicas (relacionadas ao som e certos usos da câmera) não prejudicam o conteúdo que o diretor quer transmitir, especialmente quando o diretor filmou o filme, com tantos desafios econômicos e sociais.
Amor Maldito pode ser considerado um filme à frente de seu tempo para entregar discussões relevantes, mesmo com a censura da época, o trabalho se destaca pelo tema que indica uma reflexão mais do que necessária: a forma como o romance entre duas mulheres é abordado. Ao mesmo tempo, a análise aprofundada não só da relação, mas também de como as duas mulheres se pareciam é feita com competência, misturando passado e presente de uma vida perdida e outra vida julgada.
Adélia Sampaio tomou as rédeas de um tema marginalizado, adaptou uma história real e trágica que selou as primeiras páginas dos jornais da época e transformou todo esse cenário em uma narrativa emocionante e comovente. Os desenhos animados contidos nos personagens e as performances um pouco forçadas tornam o trabalho um pouco fraco às vezes, mas seu verdadeiro valor permanece tão atual quanto significativo.
Filme visto no 26º Festival Brasileiro de Cultura da Diversidade, novembro de 2018.