Limpeza étnica na década de 1930.
Além das mostras competitivas e sessões especiais do 29º Cearo Cinema – Festival Ibero-americano de Cinema, até o dia 4 de setembro, o evento apresenta um corte muito interessante da produção local na Mostra Olhar do Cear.
- O longa-metragem Currais.
- Dirigido por Sabina Colares e David Aguiar.
- Salva um episódio aterrorizante e pouco conhecido da história brasileira: os campos de concentração que existiam no Cear.
- Sob o governo de Vargas.
- Para separar as vítimas da seca e evitar o contato com a Fortaleza Burguesa.
Apesar da tentativa das autoridades de destruir os documentos da época, os diretores realizaram uma busca minuciosa utilizando a dissertação “Isolamento e Poder: Fortaleza e campos de concentração na seca de 1932” de K. Sousa Rios. É uma ideia chocante que crianças com fome são aprisionadas em vários campos, comendo restos mortais e abandonadas até a morte para serem enterradas em valas comuns.
Currais sempre chama a atenção para o dispositivo adotado, que combina ficção e documentário: Rumulo Braga, um dos melhores atores brasileiros da atualidade, interpreta um pesquisador em busca dos traços de seu avô dentro do Cearo, confrontado com a questão da limpeza étnica perpetuada pela elite da época. Quando você conhece pessoas cujos ancestrais realmente passaram pelo período, a conversa fica mais próxima da linguagem documental.
O resultado é um controle estético invejável, com belas imagens, enquadramento poderoso e trabalho sonoro limpo e bem editado. Depois de visitar a exposição Tiradentes e Cine Cearo, espera-se que o projeto chegue em breve ao circuito comercial brasileiro.