Cine Cear 2019: a produção de um curta-metragem no Cearense debate sobre sexualidade e cinema de gênero

Um novo olhar para o corpo e espaços urbanos.

Antes mesmo da exibição competitiva do 29º Cear Cinema – Festival Ibero-americano de Cinema apresentar seus primeiros curtas-metragens, a mostra Olhar do Cear apresentou uma série de curtas-metragens de alto nível no Centro Cultural Drago do Mar, resultado de uma curadoria coerente, e atenta à linguagem da juventude local, especialmente nos espaços urbanos.

Aqui estão alguns comentários breves sobre os filmes vistos

Willian queria.

Um dos filmes mais interessantes até hoje foi Onde a Comida da Cidade, Saudade é Fome, de Willian Silveira. O diretor projeta uma representação não-pesquisa de Willian, através de uma narração, enquanto as imagens mostram objetos e cenas aparentemente desconectados por toda a cidade.

O tom pungente e muito bem orientado das narrativas, bem como a textura VHS da imagem, dão ao projeto um caráter emocional. O diretor surpreende a rica agência de imagem, tanto no ritmo quanto nas soluções encontradas para retratar, por exemplo, a perda de um avô sem uma família presente nas imagens. Um projeto conciso e muito bem desenvolvido em sua proposta estética e narrativa.

Esse peixe é seu?

Oceano, dirigido por Amanda Pontes e Michelline Helena, acompanha um dia na vida de Lavor (Samya de Lavor, sempre excelente no palco). Misturando regras de filmes de estrada com os laços de imobilidade, o palco apresenta uma série de imprevistos. eventos que não só atrasam a chegada, mas também forçam Lacia a conhecer novas pessoas e até animais: ver a grande metáfora cômica dos peixes que é forçado a carregar em todos os lugares.

O curta-metragem é lindamente editado, mostrando um cuidado na direção da fotografia e direção artística, cenas como a trajetória de Lacia em um mototáxi, com uma trilha sonora delicada ao anoitecer, revelam o olhar seguro dos diretores. um caminho, para o trabalho de Fernando Eimbcke, mas adaptado à realidade nordestina.

Saiam pessoas!

Iracema Mon Amour, liderada por César Teixeira, segue um grupo de amigos durante uma festa na praia, encontra, separa, beija algumas bocas e depois outras, independentemente do sexo, a noite se desenrola de forma um pouco e inconsecente, como se não houvesse amanhã.

A coisa mais interessante sobre o projeto é a forma perfeitamente coerente encontrada pelo diretor, com câmera livre, mas clara em sua abordagem narrativa, em conjunto com performances muito confortáveis e seguras do quarteto de atores centrais. É fácil acreditar nesses jovens e na probabilidade daquela noite. Quando os vizinhos juram ver os abraços do grupo na praia, todo um sistema de controle patriarcal e corporal é repudiado, ali mesmo, fora do quadro.

“Bom lugar para ficar”

Beno Sagrado, de Breno Baptista, segue os passos de jovens cineastas gays que encenam seus próprios corpos para representar a liberdade de sexualidade e o desmoronamento de laços na representação do sexo, uma abordagem explícita e confessional que sempre avança. uma linha tênue entre humildade e egocentra.

Pelo menos o diretor equilibra o cinema-selfie com um resgate da banda sagrada de Tebas, um exército de guerreiros gays cuja força seria precisamente amor mútuo, o que os motivaria a lutar mais intensamente. A conversão da homossexualidade em um símbolo de força e virilidade é certamente muito interessante, ajudando a equilibrar o retrato menos inventivo da solidão da jovem burguesia gay.

querido diário

Originário do Peru, o diretor Nilo Rivas relata sua mudança para o Brasil em Hoje Teci Imagens que fazem parte da minha vida há muito tempo, relembrando memórias em primeira pessoa, encontros na universidade, descobrindo o amor no Brasil, festas com amigos, etc.

O diretor usa múltiplas telas, a textura do celular e fotos caseiras, para propor um mosaico entre a sinceridade da confissão e a ficcionalização de si mesmo. Pode ser um trabalho um tanto questionável em termos de linguagem, mas sua capacidade de capturar um ritmo ultracontemporâneo e estilo para falar por si mesmo falou muito bem com o público, que respondeu bem aos momentos cômicos e românticos do projeto. Esta foi talvez a proposta mais acessível entre os curtas selecionados.

Esse namorado

Quanto aos curtas-metragens sobre a temática LGBTQI, Revoada, de Víctor Costa Lopes, destaca-se por representar não a descoberta do amor entre dois adolescentes, mas a memória após o fim do relacionamento, equilibrando imagens de flashback com uma narrativa muda sobre os dias atuais. período após o término, o filme oferece um olhar interessante sobre a construção da memória.

Além disso, impressiona com o refinamento da produção: há um cuidado óbvio no uso da profundidade reduzida do campo, das luzes da cidade, no ritmo contemplativo das cenas. Os atores são muito bem orientados a entregar os diálogos diários. . Um projeto que não confunde simplicidade e descuido, dedicando um bom trabalho técnico para encontrar o caráter particular da banalidade.

Me chame de Márcia

O documentário Deusa Olempica, dirigido por Jessika Barbosa, Pedro Luis Viana e Rafael Brasileiro, traça a carreira da pintora e escultora transexual Murcia Mendonca, especializada em arte sacra.

Os artistas optam por diversos recursos linguísticos, desde entrevistas com parentes até imagens com fragmentos do trabalho de Márcia e trechos de uma relação constrangedora em que o entrevistador fetiche o corpo trans e ironiza a religiosidade das mulheres. Capturar entrevistas requer um cuidado especial na captura do som e do trabalho luminoso, mas o resultado final é uma bela evocação do artista por seu trabalho e história.

Não me chame de pai

Misturando gravações em 16mm e 8mm com imagens experimentais e texturas caseiras, A Primeira Foto evoca a infância dolorosa do diretor Tiago Pedro, fruto de uma relação secreta entre uma empregada doméstica e o dono da casa onde trabalhava. O cineasta lembra com tristeza essa história de violência, que culmina com o pai proibindo o filho bastardo de chamá-lo de pai em público.

É interessante notar que a breve busca por imagens metafóricas em vez de retratos mais figurativos permite ao espectador projetar sua própria imaginação na história. O tom muito lento da narrativa, combinado com uma duração de trinta minutos, torna a experiência exaustiva. , mas eficaz em evocar uma imagem fantasma, uma representação da memória emocional.

O Cinema Assustador

Esther Arruda e Pedro Ulee comandam A Mulher da Pele Azul, uma alusão a uma lenda urbana da dançarina fantasma, vestida com uma cauda azul, que teria atormentado os visitantes do teatro José de Alencar. O projeto faz uma piada interessante entre falsos documentários e o estudo de nossos medos, dando voz tanto aos alunos-personagens que teriam visto o inquietante e os entrevistados falam sobre a natureza dos medos.

Além disso, o roteiro retorna a algo essencial na origem do cinema: a ideia de que uma obra muito sombria, onde pessoas anônimas se sentam juntas, pode ser algo incrível e imoral. Quanto à construção da imagem, o tom das entrevistas é natural, enquanto os borrões e sombras usados na construção do bailarino são muito eficazes na criação de suspense.

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