Em tempos de dramática polarização política, a arte resiste, da qual não há dúvida. No entanto, é importante pensar no que é produzido e para quem ocorre: com discursos geralmente de esquerda, trabalhos mais independentes e de baixo orçamento são frequentemente apresentados com abordagens e temas combativos, geralmente bem aceitos por aqueles que compartilham as mesmas ideologias. Quando um filme se move na direção oposta, em direção ao centro, corre o risco de não lutar com nenhum lado e espalhar uma ideia irresponsável de isenção, por isso é uma surpresa agradável ver o que o diretor Thaus Borges ouve com seu O Tempo Que Resta. Sua posição político-ideológica é perfeitamente clara, mas ele está mais preocupado em equilibrar o tom da conversa do que gritar a todo custo. E Borges e seus personagens certamente têm razão para gritar.
O documentário nos apresenta duas mulheres verdadeiramente fantásticas, Maria Ivete Bastos, da Comunidade de Carariac, Paro, é uma das líderes na resistência ao acúmulo e concentração de terras comandadas por uma milícia de proprietários de terras que não hesitam em queimar casas, desocupar famílias e fazer ameaças explícitas de morte. Osvalinda Marcelino Pereira, por sua vez, é camponesa e, com o marido Daniel Pereira, tenta quebrar a dependência da milícia que explora ilegalmente madeira na área próxima ao projeto Asentamiento Areia, oeste do Paro. O filme evolui entre dois segmentos que seguem a exaustiva rotina de controle a que são submetidos.
- O que mais impressiona nas imagens capturadas por Borges é a enorme sensibilidade com que as relações são retratadas.
- Nem sempre os documentaristas atingem um nível tão íntimo e profundo de acesso.
- Mas a câmera aqui é praticamente um personagem na vida dessas mulheres.
- Tal é a naturalidade e leveza com que eles se expressam diante dele.
- Também é interessante notar que Borges decide não passar tempo com grandes upheauls contextuais ou políticos.
- Ela está mais apegada a dar voz e mostrar o valor das vidas.
- Dessas duas mulheres.
Em cenas como a que Osvalinda conversa com o marido sobre sua identificação com o mundo das abelhas, por causa do senso de comunidade que exercem, é mais revelador sobre a personalidade e caráter da personagem do que qualquer resposta de uma entrevista tradicional. Também contundente é a sequência em que um dos homens que ameaçaram o casal vai para casa comprar produtos de atividades extrativistas, como acao, também é contundente. com uma expressão de medo puro, sem esquecer a coragem de continuar filmando mesmo diante de um estágio de tanta tensão.
Com a abordagem simples e direta de Borges, é difícil imaginar que uma pessoa não pode sentir empatia por mulheres que, independentemente de visões opostas, se sentem diariamente aflitas e oprimidas; que o diretor e seu restante O Tempo estão prontos para contar suas histórias. e sempre manter a coesão narrativa e a relevância cinematográfica não é apenas louvável, mas extremamente necessário.
Filme visto no 52º Festival de Brasília em novembro de 2019.