AdoroCinema para O Sol Eterno da Mente Impecável: Charlie Kaufman brilha mais uma vez

Em 1999, um novo nome começou a brilhar em Hollywood: Charlie Kaufman. No entanto, ao contrário do que é usual na escala de sucesso do cinema americano, Kaufman não era um aspirante a ator ou diretor, mas sim um roteirista. Já em seu primeiro filme, I Want to Be John Malkovich, Kaufman seria marcado por cenários extremamente criativos, que muitas vezes giram em torno de situações inusitadas. No Quero Quero . . . isso acontece, mostrando um túnel por onde transeuntes podem entrar na mente de John Malkovich. Junto com Quero Ser . . . veio também a primeira indicação de Charlie Kaufman ao Oscar, além de aguardar os próximos empregos. Em seguida, vem “La Nature Presque Humaine” que, se não repetir o sucesso de seu primeiro filme, também aborda um tema inusitado: a descoberta de um homem que viveu no meio da selva, sem ter contato com a civilização moderna, sendo “treinado” por cientistas. A estrela de Kaufman brilharia novamente em seu próximo trabalho, Adaptation, quando ele apareceu na tela na história de um roteirista assombrado por uma adaptação de um livro de cinema. Em seguida, veio outra indicação ao Oscar por seu currículo, tornando-o talvez o roteiro adaptado mais original da história do cinema. Dois anos depois da adaptação, e com as habituais Confissões de uma Mente Perigosa entre eles, é hora de Eternal Sunshine of the Spotless Mind, o novo filme de Charlie Kaufman. Sim, porque ainda mais do que o diretor Michel Gondry ou as estrelas de Jim Carrey e Kate Winslet, o filme é de Kaufman. O inusitado, o flerte com o estranho e o surpreendente estão aqui novamente, prontos para surpreender o público. Aqueles que estão familiarizados com outros filmes já feitos a partir de seus roteiros reconhecem muitos pontos, incluindo o uso de uma situação incomum para abordar um tema mais amplo. No caso de Eternal Brightness . . . love. Eternal Sunshine of the Spotless Mind é na verdade uma grande declaração de amor. O filme se passa quase inteiramente na mente de Joel Barish, um personagem de Jim Carrey. O que é incomum no enredo é a possibilidade real de que as pessoas possam simplesmente apagar memórias indesejadas de sua memória quando quiserem. O que acaba acontecendo com Joel, que decide deletar as memórias de sua namorada, Clementine (Kate Winslet), após discutir e descobrir que ela o havia apagado de suas memórias. Levado por vingança e raiva por ter sido eliminado, Joel decide fazer o mesmo com Clementine, para sua consternação. O filme torna-se então uma grande viagem pelos momentos, felizes ou não, de Joël e ​​Clémentine. Se a princípio as lembranças apenas se repetem, o próprio Joël vai percebendo pouco a pouco – em sua mente, vale a pena mencionar – que não quer perder aquelas lembranças que, se hoje são dolorosas porque não tem mais Clémentine ao seu lado, Fazem parte da sua própria história, de algo belo que viveu. Então começa a luta de Joel contra o processo de apagamento da memória, para manter viva a memória de Clementine. Uma luta para manter o amor vivo, mas a memória que um dia existiu. Ao contrário do que possa parecer, Eternal Brilliance . . . não é um dramaturgo. Em vez disso, a descoberta da importância de manter essas memórias vivas ocorre de forma sutil e ao longo do filme. Outro ponto importante é o formato em que a história é contada, que usa com maestria o estranho fato de uma pessoa estar mentalmente lutando com suas memórias. Sim, porque Joel não apenas revive suas memórias, mas também as subverte, alterando os fatos e personagens de sua vida e até criando memórias que não existiam até então. É nesta fase que se destaca o realizador Michel Gondry, que também dirigiu “A natureza quase humana”. Usando os mais diversos truques, desde a simples mudança de iluminação e foco até métodos mais elaborados, Gondry faz com que o espectador sinta a angústia que Joel passou e comece a se enraizar nele. As memórias dos bons tempos vividos por Joël e ​​Clémentine, realistas e encantadoras, também ajudam a fazer o público esperar que o romance não termine, ou melhor, não seja esquecido. Destaca-se a cena de abertura do filme, em que Joel e Clementine são vistos na praia e, logo em seguida, conversam no trem. Simples, cativante e com uma trilha sonora inusitada que, mesmo por isso, lhe confere um charme a mais. Eternal Brightness . . . tem muitas cenas incríveis, usando a situação de Joel em sua própria mente. Porém, mais do que todas essas cenas, o mais importante do filme é a mensagem que ele passa sobre amar e relembrar o que foi vivido, sejam momentos bons ou ruins. Dizer mais seria estragar a surpresa agradável que é. Excelente filme, já um dos melhores do ano.

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