Documentário de Da-Rin estreia nos cinemas em um momento crucial da política brasileira: às vésperas das eleições que determinarão o sucesso de Michel Temer como presidente, o oficial votante está preso por motivos polêmicos em tribunais internacionais, e o segundo, isolado nas intenções de voto, é um militar conhecido por suas evocações nostálgicas de torturadores , e defensor do Estado como um aparelho repressivo. Os eleitores deste candidato parecem encontrar nele não apenas a figura paterna autoritária, procurada em tempos de crise, mas também a imagem anticorrupção de políticos “profissionais”, seja por ignorância ou por uma crença que desafia os fatos, manter a lenda da funcionalidade e da justiça moral dos militares entre 1964 e 1985.
A Missão 115 oferece muito hardware para desafiar esta versão. Através dos ataques do Riocentro de 1981, com os quais o exército pretendia culpar a esquerda e estender-se ao poder, traz documentos e declarações claras sobre o terrorismo estatal, no mais amplo sentido de massa. crimes cometidos contra a sociedade, mas não podem ser inocentes: como Soldados do Araguaia, O Dia como Durou 21 Anos e outros filmes esclarecedores sobre o tema, o projeto tende a se comunicar com um público receptivo à tese anunciada. , ele deve aprofundar o debate, reacender uma chama política, mas é improvável que ele convença novos indivíduos das virtudes da democracia direta e popular. Que devoto da ditadura correria para o cinema para enfrentá-la, num momento em que o debate das ideias está se tornando escasso?
- Além dos problemas de comunicabilidade.
- O resultado apresenta raras qualidades para um filme de reportagem: em vez de declarações raivosas ou chorosas.
- O espectador encontra uma sucessão de discursos silenciosos e distantes dos envolvidos no caso: advogados.
- Historiadores.
- Testemunhas e até mesmo um soldado.
- Que confessa os crimes.
- O diálogo ocorre na chave da razão.
- Em vez da emoção.
- Os crimes da ditadura são evocados como fatos.
- Enquanto as interpretações proporcionam uma abertura bem-vinda aos desentendimentos.
- Ao estudar as consequências do ataque ao Riocentro durante a reabertura democrática e até mesmo a queda de Dilma Rousseff.
- Décadas depois.
- Especialistas inteligentes e bem articulados discordam sobre o uso da palavra “golpe de Estado” e o significado do julgamento político.
Portanto, a missão 115 está aberta para discussão. Sua tese progressista e crítica sobre a ditadura militar permite uma análise detalhada da transição para a democracia, rica em documentos, artigos de jornais e imagens do arquivo. Em termos de estrutura, Da-Rin conta com a tradicional sucessão de “cabeças falantes”, embora registrada em uma fotografia e cenário elegantes e funcionais. O uso de artigos de imprensa, com discretas manipulações digitais para promover visibilidade, também funciona de forma convincente. O ritmo é bem orquestrado, incluindo uma pausa entre as declarações e a busca por diferentes ângulos ao longo das entrevistas, a fim de produzir um efeito mais dinâmico.
Às vezes, a edição se torna confusa (como na cena de abertura) ou repetitiva, com três entrevistados proferindo frases muito semelhantes (sobre o fato de que o exército não quer ceder o poder, por exemplo). Outras vezes, o som dos depoimentos se sobrepõe a sinais que, por sua vez, se sobrepõem às linhas de um jornal, dificultando a compreensão. Entre essas extensões está a cena fictícia questionável de um homem mal-humorado, de costas, criando uma bomba e queimando arquivos comprometedores, ao Som do Suspense Music. Apesar desses momentos mais fracos, o filme termina de forma ambiciosa, capaz de ver a política brasileira tanto em detalhes históricos quanto de uma perspectiva global, que se estende por décadas e destaca tendências do funcionamento político e social brasileiro.