AdoroCinema para Elite Squad: roa osso duro

O filme de José Padilha chega às Câmaras Negras movido por outra caveira: a da pirataria. Tem gente que pensa que foi só um golpe de marketing. Se sim, não importa. Porque é muito triste ver o quanto os brasileiros amam a loucura de fazer bem em tudo. Assistir ou comprar um filme pirateado é parte do crime. É hora de as pessoas perceberem isso. Repito, não sou contra quem copia da coleção. Tem sido assim desde os dias das cassetes e não vai mudar. Mas copiar para ganhar dinheiro é crime, ponto final. São situações diferentes. Agora vamos ao filme. Elite Squad já está começando (desculpe o trocadilho) para atirar em todos os lugares. Não suporto o ritmo, a letra (?) E nem considero a música, mas é inegável que abrir o filme com o “soco” foi mais do que uma escolha justa. Principalmente porque coloca as pessoas na sela e abre a realidade das favelas cariocas. A abertura segue com parte dos créditos, salvando um hit de Tihuana e aí, querido, você já percebeu que o sucesso dessa produção não é por acaso. É uma obra-prima. Mudar a linha do tempo e brincar com o tempo conforme a trama se desenrola não é nada novo. Cidade de Deus utilizou o mesmo recurso, mas mostra que há brasileiros que sabem fazer filmes fora da norma, sem ser “tati-bi-tati”, e com qualidade. Embora narrado na maioria das vezes, o longa-metragem não deixou o resultado extenuante. Isso é crédito suficiente. Outro ponto que merece destaque é a figura do antagonista, que não existe. O vilão é a situação em que o protagonista se encontra. E a voz do capitão lembra desde o início: “. . . ou é corrupto ou vai para a guerra. ” São muitas as joias do filme e todas sem exceção te levam ao mundo underground da corrupção no Brasil. Porque o filme retrata a polícia carioca, mas reflete uma situação endêmica no país. A questão, por exemplo, da convivência e -também do envolvimento- dos alunos da classe média alta com o trânsito gerou um bom debate. E ao revelar o pensamento de jovens de uma aula de Direito, criticando a polícia por suas ações, mostra a inversão de valores que está na raiz de uma visão obtusa que a sociedade, em geral, tem dela. até. Quem corrompe é bandido. Objetivo. E o capitão Nascimento pensa assim e “passa o dedo” para quem ajuda os traficantes a se armarem. O elenco é sublime. “Elementos” Caio Junqueira e o iniciante André Ramiro além do “meliante” Baiano, interpretado por Fábio Lago. Fábio, aliás, é o nome do personagem interpretado por Milhem Cortaz (Querô, A Concepção) e responsável por vários trechos hilários como a que sintetiza take e por trás do falecido, pela polícia, porque “é a guerra da carne. ” Seria mais cômico se não fosse tão trágico. Reclame. O humor está presente em boa parte da trama e isso alivia o peso do assunto. O sarcasmo é a marca dos grandes quadrinhos, como quando o Coronel passa e Nascimento fala: “. . . o que você faria? Chamar a polícia?” Outro ponto muito particular é a subida, quando Bope chega e o PM cai: “uma faca na cabeça e nada na carteira”. As cenas de violência são muito fortes. Bofetadas, muitas balas perdidas, tiros, microondas, torturas, tudo com muita realidade. Quando o protagonista ironicamente diz que Bope às vezes parece um culto, ele chega a um ponto que se perdeu no tempo e se tornou uma ferida que não cicatriza. Afinal, ingressar em uma empresa que representa a lei deve ser repleto de rituais, símbolos e metas a serem seguidas. Por algum tempo, e cada vez mais, isso se perdeu. Talvez o fascínio que o personagem exerce sobre as pessoas seja esse resgate ficcional, ou não, desses símbolos. Justiça é o que acontece como acontece em filmes bons e ruins. É difícil dizer a Tropa, na verdade, quem é o bandido? A edição é rápida e o som é puro soco. A faixa (REM, Titãs etc. ) foi bem escolhida e quase desatualizada – a inclusão do hit dos anos 80 “Brilhar a Minha Estrela – Dá Mais Um” (frase que faz referência ao uso de drogas), da banda Sangue da Cidade. O treinamento proporcionou sequências, diálogos e discursos magníficos. Desde a reunião para falar sobre os recrutas, quando a conjuntivite (provavelmente verdade) é uma questão de brincadeira e relaxamento à mesa. A integração do grupo é clara. E o que dizer do afirmativo / negativo do capitão “Nunca será!”? Inestimável. Você não pode negar, o filme está no momento perfeito. Sem estômago. É pura vara. Como deveria ser. Parabéns aos cineastas. A partir de agora, eles aparecerão na elite do cinema nacional como uma trupe de responsa. Difícil de mastigar ossos.

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