AdoroCinema para Alice Junior: uma necessidade que derrama na tela

Alice Junior é um filme essencial, como filme, já em sua concepção. A premissa de abordar as preocupações e desejos de uma garota transgênero, sem necessariamente ser o centro do drama, é pelo menos louvável. Em algum momento, dada a sociedade preconceituosa em que vivemos, o status de protagonista inevitavelmente se torna um problema, mas o que chama a atenção para este projeto é que a abordagem do diretor Gil Baroni não traz um olhar crítico para o, digamos, menos esclarecido, mesmo disposto a ser didático sobre o assunto complexo. O cineasta é parte da ideia de que você não nasceu sabendo. No entanto, assim que há uma recusa deliberada de esclarecer, a situação torna-se mais problemática.

Alice (Anne Celestino) é uma garota como qualquer outra: passa a maior parte do tempo livre na Internet, vive um amor platônico e uma fantasia desde o primeiro beijo, enquanto enfrenta dramas do ensino médio envolvendo bullying, triângulos amorosos, aceitação em grupos problemáticos. relacionados com amigos e autoimagem, a diferença é que ser trans esses problemas, já sérios em si mesmos, se tornam ainda mais intensos, por isso é reconfortante ver como Baroni nem sequer considera diferenciá-la de seus pares. Ao retratar a relação entre o protagonista e seu pai Jean (Emmanuel Rosset), o diretor opta por uma interação na qual a figura paterna não só entende, mas aceita plenamente a condição da menina. Não há um único momento na trama, quando Alice ser trans é um problema para seu pai, muito pelo contrário, elogia a diversidade de sua filha e prova que, ao contrário da crença popular, é perfeitamente natural.

  • Uma das cenas mais reveladoras a esse respeito é quando os dois comem uma refeição caseira juntos.
  • E quando juram.
  • A menina é repreendida pelo pai pelo termo usado.
  • Que ele considera ofensivo.
  • “Palavra ruim sobre a mesa.
  • Não.
  • Alice”.
  • Diz Jean.
  • Com isso.
  • Baroni diz que o foco é combater o desgaste da existência em qualquer relação familiar.
  • Esse aspecto é reforçado pela interação entre um dos alunos.
  • Que é gay.
  • E sua mãe.
  • Com quem ele tem uma relação saudável.
  • Em um momento em que decide lembrar ao espectador o status de Alice.
  • O diretor aponta para um tratamento ainda muito primitivo pela sociedade no respeito aos direitos das pessoas trans.
  • Como o uso de banhos públicos de acordo com sua identidade de gênero.

Toda a seção do longa-metragem destinada a abordar essa questão, em particular, é tratada com notável sensibilidade, além de deixar a questão mais do que óbvia: como é possível que algo tão básico continue a ser discutido hoje?A abordagem de Baroni apresenta alguns problemas, principalmente no palco. Para um filme baseado em sutilezas e contracorrentes para comunicar sua mensagem, a cena em que Alice não chega ao banheiro e acaba sendo humilhada na frente de seus pares parece excessiva, embora as reações em si pareçam cruelmente realistas.

Um momento igualmente surpreendente é quando um dos amigos mais próximos de Alice diz que ela não parece ser trans, ao que a garota responde: “É uma coisa horrível dizer a um homem trans. “Intrigado com a fala do seu amigo, a criança precisa de uma explicação completa do que a pergunta implica?e, nesse momento, o personagem leva uma verdadeira lição em sua resposta. Outro ponto interessante do roteiro de Luiz Bertazzo é o resultado encontrado para o triângulo amoroso. Embora a mensagem de narração emocionante seja muito explicativa, a ideia de abandonar rótulos pré-estabelecidos é uma decisão sábia e bem sucedida, dado o tema proposto e o público-alvo do projeto.

Alice Junior? E Anne Celestino, mais precisamente, abre caminho para o que deveria ser um rico histórico de empoderamento de artistas transgêneros no cinema brasileiro, no qual a intolerância dá lugar à iluminação e respeito à diversidade não parece ser algo de outro mundo. .

Filme visto no 26º Vitia Film Festival em setembro de 2019.

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