Imagine criar uma personagem para um filme, digamos que ela é uma jovem solitária com trauma infantil, essa construção pode ser representada de várias maneiras: a forma como ela age, os objetos que ela processa em casa, que podem simbolizar sua dor, as imagens que a inserem. em grandes espaços vazios, ou no meio de uma multidão anônima, por exemplo. O trauma pode ser sugerido, simbolizado por metáforas, tornar-se ambíguo por ações ou pode simplesmente ser transmitido em diálogos. Um personagem se aproxima do outro e diz: “Esta garota está sozinha. Ela estava traumatizada quando era criança?”
A Superfície das Sombras é quase inteiramente baseada no último, o mais simples em termos de representatividade. Os diálogos podem ser ricos pelo poder da sugestão, pela capacidade de dizer muito mais sobre um personagem do que ele afirma (digamos que a garota que o exemplo acima está claramente apaixonada por alguém, mesmo quando ele insiste que não sente a pessoa). No entanto, uma narrativa baseada unicamente no diálogo torna-se muito frágil. Dizer?
- Nesta história.
- O brasileiro Tony (Leonardo Machado) chega ao Uruguai.
- No primeiro bar onde para.
- Dois homens comentam sobre o funeral de uma mulher.
- Que é obviamente o motivo da jornada do protagonista.
- A jovem Bianca (Giovana Echeverría) conta a história da mulher sentada no peito.
- Mas o espectador não vê essa figura.
- Comenta sobre a morte de um homem.
- Mas também não vemos o caso.
- Ela também explica o passado de um funcionário do restaurante.
- Um boato sobre facas.
- O comportamento do falecido e muitos outros elementos faltando na imagem.
- O empresário da pompa funerária e cantor domita (César Troncoso) também fornece informações sobre as festividades e perigos da cidade.
Em todos os lugares, as pessoas se tornam vetores de explicação para Tony, e, portanto, para o espectador. Para o diretor e roteirista Paulo Nascimento, o espectador precisa acreditar que as informações ouvidas por terceiros, indiretamente, porque ele não consegue tirar suas próprias conclusões. Os conflitos básicos da premissa estão ausentes: nem Tony nem Bianca são percebidos em luto, não sabemos quase nada dos sentimentos que o falecido alimenta. Tony se move com o mesmo visual roqueiro decadente em cada cena, embora a importância desse estilo de vida em sua personalidade Bianca alterna entre um tom infantil e sedutor, entre indiferença e preocupação com Tony.
A situação não melhora quando se percebe que a intensa carga do diálogo recai sobre os brasileiros que jogam uruguaios de língua portuguesa. Por mais que Echeverría tente construir um sotaque, tanto sua entonação é tipicamente brasileira. o uruguaio César Troncoso acentua a artificialidade das performances. Muitos discursos parecem explicativos, enquanto outros se tornam slogans, escritos em excesso: “Quando homens e mulheres começam a viver seus sonhos e esses sonhos se tornam fantasmas, é hora de ir?Troncoso tem uma presença muito forte na tela, no entanto, os outros atores têm dificuldade em criar motivações reais para seus personagens incoerentes.
Enquanto isso, a direção opta por características contraproducentes, como câmeras lentas que pouco contribuem para a construção do ambiente, voyeurismo nunca examinado, flashbacks que destacam elementos muito brilhantes (o tema das facas). Para complicar as coisas, as mulheres se resumem ao fetiche por bruxas. : qualquer figura feminina na tela orbita Tony, seduzindo-o pelas ruas, bares e dentro da casa, culminando na cena ritual questionável. Para não entrar em detalhes, basta dizer que o filme falharia sumariamente no teste de Bechdel. da Sombra conclui como uma tentativa valiosa de trabalhar com uma linha de suspense entre o natural e o sobrenatural, mas dificultada pela incapacidade de desenvolver personagens e encontrar soluções narrativas além do diálogo.