Às vezes é necessário lembrar que um jogo de xadrez representa uma batalha, na qual cada rei leva seu exército ao tabuleiro, para matar o rei do lado oposto. Em certo ponto de A Chance de Fahim, o personagem de Gérard Depardieu, professor Sylvain, diz ao pequeno Fahim (Assad Ahmed) que o xadrez é na verdade uma batalha entre duas mentes, e é isso que acaba sendo o filme também.
A Chance de Fahim não é apenas uma batalha entre o menino bengalês e o mestre, mas há vários pequenos confrontos, seja entre Fahim e seu pai, entre o time de xadrez mais rico de Fahim e os colegas de Fahim, entre Sylvain e Mathilde (Isabelle Nanty), e, claro, entre os franceses e os refugiados. São dualidades que não ocorrem em nenhum dos lados do tabuleiro, mas estão lá para delinear e aguçar as relações entre os personagens.
- O objetivo desses conflitos não é ter um lado vencedor.
- Mas entender e se complicar.
- Ou seja.
- Um empate.
- Como diz o personagem de Depardieu.
- é tão importante para o xadrez.
- E isso pode garantir a vitória em um campeonato em suma.
- Pontos.
O filme é baseado na história real de Fahim Mohammad, que fugiu de Bangladesh para a França com seu pai (enquanto o resto da família ficou na Ásia) e pediu asilo no país europeu. Fahim’s Chance encurta sua estadia na Europa, e solução fácil para o palco, acelerando o caminho para o campeonato nacional e dando a oportunidade de agrupar conflitos no clímax da competição. O roteiro até usa o artifício trivial dos rivais diretos de Fahim e Sylvain para tornar a história mais comum.
A história, que tem um tema complexo em seu núcleo, é ingenuamente e levemente exibida, mas ao mesmo tempo que a ingenuidade e o olhar pueril iluminam o filme, eles acabam se tornando uma fraqueza do longa-metragem, o que não. Não se arrisque ou desafie, com simples escolhas de câmeras e diálogos didáticos. Até mesmo o tema refugiado é apresentado superficialmente durante a maior parte do filme, mesmo que seja a razão que chamou a atenção para esta batalha da vida real.